O Brasil discute sandália enquanto R$ 61 bilhões passam despercebidos


A polêmica das havaianas dominou as redes, enquanto R$ 61 bilhões passaram pelo Congresso quase sem debate.

Enquanto a internet e parte da classe política se ocupam de debates superficiais — como uma simples sandália — o Congresso Nacional avançou em silêncio sobre um dos temas mais importantes do país: o Orçamento de 2026. E os números aprovados chamam atenção.
Foram reservados cerca de R$ 61 bilhões apenas para emendas parlamentares, além de aproximadamente R$ 4,9 bilhões para o fundo eleitoral, que será usado nas campanhas políticas. Esses valores, sozinhos, superam o orçamento de muitos ministérios e poderiam ser direcionados para áreas sensíveis como saúde, educação, segurança pública e infraestrutura.
O contraste é evidente: enquanto a população se envolve em discussões que pouco alteram a realidade do país, decisões que impactam diretamente o futuro econômico e social do Brasil passam quase despercebidas. É um roteiro conhecido. Cria-se um fato chamativo, uma polêmica rápida, e os holofotes se desviam. Nos bastidores, o verdadeiro jogo acontece — e quase ninguém percebe.
As emendas parlamentares, que deveriam servir para atender demandas regionais legítimas, viraram um dos instrumentos mais poderosos do Congresso. Hoje, elas funcionam como uma espécie de “orçamento paralelo”, concentrando bilhões nas mãos de deputados e senadores, muitas vezes sem a transparência e o controle que o dinheiro público exige.
Já o fundo eleitoral cresce eleição após eleição, mesmo em um país que enfrenta dificuldades fiscais, alta carga tributária e carências básicas. Enquanto isso, hospitais enfrentam filas, escolas precisam de investimento e obras ficam pelo caminho.
O problema não é discutir assuntos do cotidiano. O problema é quando esses temas são usados para desviar a atenção do que realmente importa. Quando a população está distraída, decisões que afetam bilhões de reais são tomadas sem pressão, sem debate e sem cobrança.
O Orçamento define prioridades. E os números aprovados deixam claro que, mais uma vez, o sistema político priorizou a si mesmo.
O truque é antigo: ocupe as pessoas com o que não muda nada — e elas não verão o que realmente está sendo feito com o dinheiro público.
E é justamente por isso que precisamos falar menos de sandálias… e muito mais de bilhões.

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